Gerenciadores de boot são softwares capazes de iniciar o processo de
carregamento de sistemas operacionais em um computador. Por diversas razões, é comum encontrar máquinas que possuem mais de um sistema operacional instalado. Nestes casos, os gerenciadores de boot têm papel importantíssimo, pois cabe a eles a tarefa de permitir ao usuário o carregamento de um ou outro sistema. Irei apresentar e e abordar as principais características do GRUB, um gerenciador de boot cada vez mais usado, principalmente em instalações que envolvem o Linux.

GRUB é a sigla para GRand Unifield Bootloader. Trata-se de um gerenciador de boot desenvolvido inicialmente por Erich Stefan Boleyn, disponibilizado como software GNU. Entre seus principais recursos está a capacidade de trabalhar com diversos sistemas operacionais, como o Linux, o Windows e as versões BSD, e seu conseqüentemente suporte a vários sistemas de arquivos, como o ext2, ext3, reiserfs, FAT, FFS, entre outros.
Um dos motivos mais óbvios para o GRUB ser usado é sua capacidade de
permitir que o usuário escolha um dos sistemas operacionais instalados em seu computador. Em outras palavras, o GRUB é capaz de trabalhar com “multiboot”. Além disso, esse gerenciador também é capaz de “bootar” sistemas em discos SCSI ou mesmo carregá-los através de imagens disponíveis em rede.

 

Configuração do GRUB

Geralmente, o GRUB faz uso do arquivo /boot/grub/menu.lst para definir e
carregar sua configuração (um detalhe importante: dependendo da distribuição, o GRUB pode usar outro diretório e outro nome de arquivo, como grub.conf ou menu.conf). Nele, a primeira coisa que chama a atenção é sua forma de trabalhar com os discos rígidos do computador. Ao invés de referenciar esses dispositivos como /dev/hda1, /dev/hda2, etc, ele o faz através dos termos (hd0,0), (hd0,1) e assim por diante. Observe a tabela abaixo para um melhor entendimento:

Padrão                     GRUB

/dev/hda1               (hd0,0)
/dev/hda2               (hd0,1)
/dev/hdb1               (hd1,0)
/dev/hdb2               (hd1,1)

O GRUB chama o HD principal do computador de hd0 (enquanto o Linux o
chama de hda). Um disco secundário recebe o nome de hd1 (o Linux o chama de hdb) e assim se segue. Para trabalhar com as partições do HD, o GRUB as referencia através de um número inserido após uma vírgula. Assim, a primeira partição recebe o número 0 (zero) – hd0,0 -, à segunda partição é atribuído o número 1 – hd0,1 – e assim por diante. É importante frisar que, nesse caso, o GRUB não faz distinção entre discos IDE e SCSI.
Agora que você já sabe como o GRUB trata os discos da máquina, abaixo segue, como exemplo, o conteúdo de um arquivo menu.lst:

default 0
timeout 5
fallback 1
splashimage=(hd0,1)/grub/splash.xpm.gz
title Fedora Core (2.6.9-1.667)
root (hd0,1)
kernel /boot/vmlinuz-2.6.9-1.667 ro root=/dev/hda2
initrd /boot/initrd-2.6.9-1.667.img
title Windows XP
rootnoverify (hd0,0)
makeactive
chainloader +1

A primeira linha – default 0 – indica ao GRUB qual sistema operacional
inicializar caso o usuário não faça nenhuma escolha. No exemplo, ele vai “bootar” o Fedora Linux, pois o número 0 faz referência ao primeiro sistema listado no arquivo. Caso o Windows XP tivesse que ser carregado por padrão, bastaria mudar a linha em questão para default 1, pois no arquivo esse sistema é o segundo a ser listado (note que o GRUB faz a listagem começando em zero).

A linha preenchida com timeout 5 determina o tempo (em segundos) que o
usuário terá para escolher um sistema operacional para inicializar. Assim que o GRUB “entra em ação”, ele mostra na tela uma lista dos sistemas operacionais instalados. O usuário poderá escolher um alternando-os através das teclas de seta do teclado e pressionando o botão Enter quando a escolha for feita. No caso desse exemplo, o timeout recebe o valor 5. Isso significa que o usuário terá 5 segundos para escolher um sistema. Caso nenhuma opção seja escolhida, após os 5 segundos, o GRUB carregará o sistema padrão, definido através da primeira linha.

Por sua vez, a terceira linha (nem sempre usada) – fallback 1 – indica ao GRUB qual sistema inicializar caso o carregamento da primeira opção falhe por algum motivo.

Esse recurso é especialmente útil quando há mais de dois sistemas operacionais instalados no computador.
A quarta linha simplesmente contém informações para carregar as configurações gráficas (como imagem de fundo) para quando o GRUB exibir as opções de sistema operacional disponíveis.

Repare que neste arquivo menu.lst a lista de sistemas operacionais é mostrada depois da quarta linha de configuração. O primeiro sistema da lista é o Fedora Linux:

title Fedora Core (2.6.9-1.667)
root (hd0,1)
kernel /boot/vmlinuz-2.6.9-1.667 ro root=/dev/hda2
initrd /boot/initrd-2.6.9-1.667.img

A primeira linha acima mostra o título que o sistema recebe no GRUB. É esse
nome que será exibido quando o GRUB mostrar a lista de sistemas operacionais que o usuário pode escolher. Pode-se usar qualquer frase depois de title. Obviamente, informe algo relacionado ao sistema operacional em questão.

A segunda linha – root (hd0,1) – informa ao GRUB onde o sistema operacional está instalado. No exemplo, ele se encontra na segunda partição do HD. A palavra root tem a função de indicar que aquela é a partição principal do sistema (ou a partição-raiz) e que, portanto, deverá ser montada.

A terceira e a quarta linha informam ao GRUB o kernel a ser carregado e
possíveis parâmetros. Neste caso, ro indica que a partição deve ser montada
inicialmente com permissões apenas de leitura.

Na parte do arquivo que trata do Windows XP, a sintaxe é a mesma. No entanto, a segunda linha recebe o parâmetro rootnoverify ao invés de root, pois a montagem de partição não se aplica ao Windows. O rootnoverify é usado porque esse parâmetro não tenta fazer nenhuma montagem.

title Windows XP
rootnoverify (hd0,0)
makeactive
chainloader +1

Como o Windows trabalha de maneira diferente do Linux, a opção de carregar o kernel também não se aplica ao sistema da Microsoft. No lugar desse parâmetro, geralmente é usado chainloader +1, que “chama” o carregador de boot do Windows, deixando a esse a tarefa de iniciar o sistema. Note que em nosso exemplo, há um parâmetro na linha acima de chainloader +1, o makeactive. Este tem a função de definir a partição em questão como ativa.

Existe um parâmetro chamado map que permite o carregamento do Windows
quando este não está instalado no primeiro HD (regra obrigatória no Windows 9x, por exemplo). Sua utilização é feita da seguinte forma (supondo que o Windows esteja no segundo disco):

map (hd0) (hd1)
map (hd1) (hd0)